Outro
dia estava eu na plataforma esperando o ligeirão, quando presenciei uma cena
corriqueira em terminais de ônibus em Curitiba, um rapaz andando
apressadamente, quase correndo, para pegar uma condução que estava sinalizando
saída, dois cães ao avistarem esta pessoa em movimentos que possivelmente
aludiam alguma ameaça aos mesmos, investiram contra a mesma, fazendo com
que este usuário parasse imediatamente, estático e sem reação o rapaz além de
perder a condução ficou à mercê de cães, que o cercaram e latindo
incessantemente causaram pavor ao mesmo, impressão notadamente observada por pessoas,
que sem reação diante do fato, transitavam no local.
É
absurdamente confuso a permissividade de setores que gerenciam terminais de
ônibus em Curitiba e região metropolitana e não atentam ao fato de que cães estão
se abrigando nos mesmos, ou que sejam abrigados por outros nestes espaços
físicos destinados a circulação de pessoas e, que estes locais públicos estão na
responsabilidade de uma gestão municipal e provavelmente de um consórcio de
empresas do setor.
Mesmo
sabendo que todo e qualquer animal por instinto é territorialista, princípio
este característico de sobrevivência natural das espécies e que devido a esta
peculiaridade, podem ocorrer ataques destes cães aos usuários nestes espaços públicos.
Com
esta anuência, mitigação ou o simples ato de ignorar uma atitude pontual, a
administração municipal permite e contribui para este crescimento populacional
especifico, em que matilhas estão se alojando nestes logradouros públicos, volto a frisar, onde
o transito de usuários do sistema de transporte coletivo é constante.
Sendo
estes animais territorialistas quando os mesmos se sentirem supostamente ameaçados pela
movimentação desenfreada e rotineira destes usuários, é óbvio que sob estresse,
devido a estes fatores pontuais eles avançarão em pessoas que se utilizam de
terminais de ônibus, para se locomovem ao trabalho, residência, lazer e por ai
vai.
Estes
cães alocados em terminais de ônibus, estão expostos a fatores externos, fatores
predominantes que desestabilizam o quadro comportamental dos mesmos a curto,
médio e longo prazo, fazendo com que estes tornem-se agressivos subitamente,
incorrendo em ataques as pessoas que transitam nestes locais.
Não
existe uma única causa para a agressividade desenvolvidas pelos cães, ela
sempre é multifatorial, e esta é uma reação em cadeia que proporciona o
surgimento de um outra reação em cadeia que veremos adiante, relacionados a
condição especifica dos mesmos, dividindo espaço físicos com pessoas.
O
comportamento dos cães sofre influência significativa de fatores como genética,
idade, sociabilização, aprendizagem, ambiente, estado de saúde e até condição
reprodutiva, vale frisar que fatores fisiológicos e ambientais tais como:
dominância e possessão, medo, dor, territorialismo, distúrbios hormonais,
solidão, privação de água ou de alimento, maus tratos, proteção materna, entre
outros, são relevantes no desenvolvimento comportamental dos cães.
Isso
significa que mesmo um cão de temperamento dócil, aparentemente, em seu dia a
dia pode se tornar agressivo, necessita para isso que ele esteja com algum
problema de saúde.
Dentre
os fatores citados acima, eu penso que um é predominante nesta relação e está
diretamente interligado aos sons e ruídos constantes e peculiares ao ambiente
que o cão escolheu como seu habitat, onde o barulho constante de motores,
buzinas vozerios diversificados, em diferentes níveis de distribuição e
propagação sonora desenvolve nestes animais uma fobia crescente que eleva os
níveis de estresse no cão, devido a sua audição sensível, já que o cachorro tem
uma percepção auditiva superior a do homem em quatro vezes mais, ou seja,
a audição
canina analisa a altura, a intensidade, a tonalidade do som correspondente e o
local da fonte sonora, já a altura deste tom depende do número de vibrações das
ondas sonoras e, quanto maior for a freqüência, mais alto é o tom, ou seja,
alguns sons para nós ao nível de ação de 86dB(a) é aceitável, para um cão
torna-se algo “castigante”.
O
homem é capaz de perceber ondas sonoras na freqüência de aproximadamente 16 a
20.000 hertz (ciclos por segundo). Já os cães são capazes de ouvir vibrações
sonoras aproximadamente nos limites de 10 a 40.000 hertz, essa sensibilidade
auditiva mais o fator agravante de que o cão está exposto aos sons além do
aceitável, propicia o adoecimento paulatino do mesmo.
Os
cães possuem uma capacidade auditiva diferente do ser humano, desta forma
instala-se um quadro de fobia que pode, inclusive, resultar em um quadro
sintomático de ansiedade, tremores, taquicardia (aumento da frequência
cardíaca), vocalização excessiva (chorar, ladrar, latir) e até mesmo óbito em
casos extremos.
A
audição dos cães é bem superior à humana. Um cão consegue escutar um som 4
vezes mais longe que uma pessoa. Além disso, ele pode detectar a origem do som
em apenas 6 centésimos de segundo, ou seja, 0,06 segundo.
Os
cães detectam sons em frequências menores e maiores, em comparação a captação
de sons que os seres humanos detectam, assim sendo, o intervalo da frequência
do som que eles captam é bem maior que a do homem, com isso, é possível usar
apitos ultrassônicos para comunicar-se com o cão, sem que a pessoa escute.
Concomitante
a este, o sistema olfativo dos cães é milhares de vezes mais sensível do que o
sistema olfativo dos seres humanos, o nariz de um cão tem duzentos milhões de
receptores olfativos nasais, cada receptor detecta e identifica as moléculas de
odor (cheiros) que estão constantemente voando pelo ar e impregnado em objetos.
Os
cães têm cerca de 25 vezes mais receptores olfativos do que os seres humanos.
Os cães podem sentir odores em concentrações quase 100 milhões de vezes menor
do que os seres humanos, podendo detectar uma gota de sangue em cinco litros de
água!
Espirros,
incômodo e o ato de esfregar o nariz no chão podem ser sinais de cheiros
desagradáveis ou irritantes para o cão. Assim desinfetantes, cheiros de tintas,
solventes, vernizes, e outros, podem irritar o senso olfativo de um cão,
levando-o a apresentar quadros de náusea e vômitos.
Outro
fator prejudicial e agravante ao quadro destes cães é o fato dos mesmos
inalarem constantemente os odores de combustíveis e seus derivados, gás
carbônico devido a combustão dos mesmos, frituras, perfumes e demais odores
proeminentes e concentrados nestes espaços físicos, colocando os mesmos em
vulnerabilidade constante, portanto é absolutamente correto afirmar que o nível
de estresse destes animais sofre alterações diuturnas.
Estes
cães especificamente relatando, são alimentados por pessoas com conceitos
diferentes relacionados ao trato com animais, algumas pessoas os alimentam com rações, outras com alimentos
comprados em estabelecimentos localizados nos terminais e algumas trazem de
casa sobras de alimentos, mas o chocante é saber que estes restos de alimentos,
que ficam depositados em recipientes colocados em pontos estratégicos destes terminais, servem
de alimentação para pombos no período diurno e ratos no período noturno.
Os
pombos que estão também se proliferando em terminais, são potencialmente
transmissores da Criptococose que é a principal doença transmitida pelos
pombos, esta doença contamina as pessoas através da inalação de fungos que
estão presentes nas fezes destas aves, ela ataca os pulmões e pode chegar
também ao sistema nervoso central, ocasionando sintomas como dor de cabeça,
sonolência e febre, estas
mesmas aves podem eventualmente transmitir a ornitose conhecida também como psitacose,
trata-se de uma infecção que pode ser transmitida pela inalação de bactérias
das fezes secas ou da manipulação de penas das aves infectadas.
No
período noturno, os ratos também se alimentam destes “restos’ de alimentos
deixados para que os cães se alimentassem durante o período diurno.
Os
ratos podem transmitir cerca de 30 doenças, entre as mais comuns estão a
leptospirose, as hantaviroses e a peste. A leptospirose é causada pela bactéria
leptospira, transmitida ao homem pela urina de ratos, ratazanas e camundongos.
Percebe-se
ai uma predisposição, onde ocorre um ciclo de contaminação, ou seja, aquela
alimentação disponibilizada aos cães que residem nos terminais, serve também como
alimentação aos pombos e aos ratos, que
são transmissores de doenças especificas, e que quando em contato com os
alimentos colocados em recipientes, por meio da salivação, esfregaço de patas e
manipulação de asas, depositam bactérias destas doenças mencionadas nestes
mesmos alimentos, que podem servir de
alimento aos cães no dia seguinte ou até mesmo durante a madrugada.
Estas
ações no mínimo desmedidas de pessoas, de alimentar cães em terminais de
ônibus, caracteriza-se em um ciclo com um potencial infectante e infeccioso,
que contamina espécies que tornam-se portadores e transmissores simultâneos
e dentre elas
os seres humanos.
Agregado
a esta cadeia de fatores analise e acrescente a estes riscos as condições de
vulnerabilidade em que os cães estabelecidos em terminais se encontram, sim
porque eles estão abandonados em terminais e os “cuidados” que porventura
recebem esporadicamente de setores e órgãos competentes provavelmente não os
condiciona a um estilo de vida saudável.
Agora
eu pergunto, diante deste quadro lastimável de possíveis agravos para a saúde
destes envolvidos; caso um desses cães ataquem um idoso, um adolescente, uma
criança e a agressão cause lesões, infecções e contaminações com agravantes
posteriores, quem será responsabilizado civil e administrativamente?
O
que estou questionando é exatamente o papel protagonista dos agentes públicos e
medidas de preservação e segurança aos cidadãos em geral, e vou além, existe porventura
estudos, analises e controle com base na infectologia, destes agentes nocivos
para a saúde das pessoas; programas de controle em relação a população de cães,
pombos e ratos, vivendo em terminais de ônibus, controle e vigilância de
zoonoses dos mesmos.
Os
sintomas da leishmaniose visceral canina são diversos. Entre os sinais
externos, são bem características as lesões, descamação e coloração branca
prateada na pele. Nas patas, pode ocorrer infecção (pododermatite), pele
grosseira por excesso de produção da queratina (hiperqueratose dos coxins) e
unhas espessas e em formato de garras (onicogrifose).
Os
cachorros podem transmitir diversas doenças para as pessoas, já que se
encontram em contato direto e frequente com bactérias, vírus e parasitas que
podem ser encontrados no chão, no ambiente e em alimentos mal acondicionados e
depositados em locais impróprios.
É
importante que os cachorros tenham um acompanhamento periódico de veterinários
e sejam desparasitados também de forma regular para evitar a infecção e
transmissão para as pessoas.
A
micose é uma doença causada por fungos e que pode ser transmitida pelo contato
direto com o pelo do animal infectado, causando mancha avermelhada na pele e
intensa coceira.
A
leptospirose é uma doença infecciosa causada por uma bactéria que pode ser
encontrada na urina ou fezes de animais, como cães, gatos e cachorros, por
exemplo. A leptospirose é uma doença grave e pode ser percebida por meio do
aparecimento de alguns sintomas, como por exemplo dor de cabeça, dor nas
pernas, dor no corpo e comprometimento do fígado.
A
doença de Lyme é causada pela mordida do carrapato que pode estar presente em
animais domésticos, principalmente em cachorros, resultando em coceira intensa
no local da mordida e aparecimento de mancha avermelhada ou esbranquiçada no
local.
A
larva migrans corresponde à presença de larvas no organismo que penetram na
pele e causam sintomas diversos de acordo com a sua localização, alguns
cachorros apresentam infecção por espécies de Ancylostoma ou Toxocara, sem que
haja qualquer sintoma. Como resultado dessa infecção, há liberação de ovos nas
fezes e no ambiente ocorre a saída da larva, que pode penetrar a pele e causar
feridas em forma de caminho, febre, dor abdominal, tosse e dificuldade para
enxergar.
A
raiva humana é uma doença transmitida por vírus que podem estar presentes na
saliva dos cachorros, sendo transmitida para as pessoas por meio das mordidas,
a raiva humana é caracterizada pelo comprometimento do sistema nervoso, gerando
espasmos musculares e salivação intensa no animal.
A
Capnocytophaga canimorsus é uma bactéria que pode ser encontrada na boca de
alguns cachorros e ser transmitida para as pessoas através da saliva do
cachorro, seja por meio de lambidas ou mordidas, esse tipo de infecção é rara,
no entanto pode resultar em febre, vômitos, diarreia, aparecimento de bolhas ao
redor da ferida ou do local da lambida e dores musculares e nas articulações.
Portanto
a maneira correta de oferecer aos cães uma condição de vida digna, não é
condicioná-los aos terminais de ônibus, mas sim oferecer uma qualidade de vida
realmente saudável, é desenvolver um programa de atenção a saúde do cachorro
construindo abrigos dignos, com uma infraestrutura condizentes a sua realidade
canina, um espaço amplo onde os mesmos possam desenvolver suas atividades
peculiares e simples em seu dia a dia, tais como; correr, brincar, roer, escavar,
cheirar, nadar, pular, comer, beber, dormir, e por ai vai, onde os mesmos
poderão coabitar com os demais da espécie, interagir e se sociabilizar.
Enquanto
setores responsáveis e sociedade agirem desta maneira no trato com cães, apenas
e tão somente, estarão colocando panos quentes, tapando o sol com a peneira
para um fato emergente, ou seja uma população especifica e emergente que pode
perder suas características e ser um agente propagador de problemas de ordem
social, devido ao comprometimento biofisiológico e comportamental da espécie
canina.